quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

BOCAGE: MITO LITERÁRIO

Manuel Maria de Barbosa du Bocage, nascido em 15 de setembro de 1765 na cidade de Setúbal (Portugal), considerado o maior poeta do século XVIII. Apelidado pelo povo simplesmente de Bocage, mas os seus amigos o chamavam de Manuel Maria. Na sua vida Arcádia recebeu o pseudônimo de Elmano Sadino. Diferenciou-se dos poetas árcades à medida que tomou como tema para suas poesias a sua própria experiência de vida, gerou uma poesia tensa e turbulenta, manifestação exagerada das angústias humanas. O que lhe causou a fama de boêmio dissoluto, de piadista e de poeta pornográfico.
 Ao lado do seu grande mestre Camões e de Anterio de Quental, Bocage é considerado um dos três maiores sonetistas de toda literatura portuguesa. Por ser grande perseguidor das obras e vida de Camões, ele atingiu na lírica o ponto alto de sua obra. Mas também, sobressaiu-se como poeta satírico e erótico. A poesia erótica era muita intensa, tanto em palavras quanto em sentido poético, era tida como algo “inexistente”, “perversa”.  Assim, Bocage foi perseguido pela cesura portuguesa e o mesmo considerado satírico e maldito.
A vida acadêmica de Bocage foi marcada por dois períodos transitórios: o primeiro marcado por inúmeras mudanças, como a Revolução Francesa (1789); a segunda, pela a progressão do Romantismo. Dessa forma, a sua obra é um trabalho de transição que demonstra concomitantemente aspectos dos dois movimentos literários.
A poesia bocageana na fase inicial é marcada por criações e temas convenientes do Arcadismo: ambiente bucólico, o ideal de vida simples e alegre, a simplicidade e clareza das ideias e da linguagem. No outro conjunto de criação poética do autor, chamado de pré-romântico, vai de encontro aos postulados Árcades e antecede o movimento literário Romantismo. O eu lírico se coloca, num gesto completo de desespero e descontrole emocional. Em vez de equilíbrio, percebe-se o pessimismo existencial do autor, sendo a morte uma saída para saciar angustia de viver.
Há um predomínio total da emoção, sem nenhum vínculo com o racionalismo. Em lugar da objetividade, predomina o subjetivismo. Com o espírito aventureiro, Bocage passou seus 40 anos de vida, destacados pelo sofrimento (dificuldades, doenças e misérias) e pelos insucessos (perseguições) de toda ordem.
Aos 15 anos ingressou no serviço militar; aos 21 anos foi incorporado à Marinha Real, foi para Goa na Índia, onde permaneceu por três anos, não aceitando ser transferido para Damão, desertou e fugiu para China. Em 1790, ao retornar para Portugal, Bocage sofrera a sua maior decepção, que foi ver a amada Gertrudes, casada com seu irmão, Gil Bocage.
Sua carreira literária não foi menos turbulenta. Participou da Nova Arcádia, por mais de três anos, da qual, foi expulso. Em 1797 foi preso porque conspirava contra a segurança do Estado, consegue redução da sua pena. É transferido para uma prisão no Mosteiro de São Bento e, no hospício das Necessidades, viveu um período de calma. Saindo do convento, em 1799, publicou o segundo volume das Rimas, ficou livre de todos os “vícios”, passou a trabalhar como tradutor para se manter e sustentar sua irmã e sobrinha. Tornou-se pobre e doente, reconciliou com todos aqueles que o ofendera e morre em 21 de dezembro de 1805. Antes de morrer lamenta “as desordens fatais da louca idade”, como relata no poema “Já Bocage não sou!... À cova escura”:

Já Bocage não sou!... À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento...
Eu aos céus ultrajei! O meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura.

Conheço agora já quão vã figura
Em prosa e verso fez meu louco intento.
Musa!... Tivera algum merecimento,
Se um raio da razão seguisse, pura!

Eu me arrependo; a língua quase fria
Brade em alto pregão à mocidade,
Que atrás do som fantástico corria:

Outro Aretino fui... A santidade
Manchei!... Oh! Se  me creste, gente ímpia,
Rasga meus versos, crê na eternidade!

Observa-se que este poema é a conclusão de um desabafo do indivíduo poético, o que determina a respectiva organização interna. Percebe-se também, a confissão da afronta a Deus vivenciado no seu passado, havendo dessa forma o arrependimento por parte do poeta.       





REFERÊNCIAS

AMARAL, Emília [et al]. Novas palavras. 2 ed. São Paulo: FTD, 2003

CEREJA, William Robert; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Português: linguagem. 5 ed. São Paulo: Atual, 2005
  
MASSAUD, Moisés. A literatura portuguesa. 33 ed. São Paulo: Cutrix, 2005 

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